A recente aprovação de uma polémica lei na Turquia, conhecida como “lei do massacre”, tem gerado grande preocupação entre defensores dos direitos dos animais em todo o mundo. Estima-se que cerca de quatro milhões de cães vivam nas ruas turcas, e a nova legislação poderá abrir as portas para o abate de muitos desses animais, o que tem levado várias organizações e particulares a buscar alternativas, incluindo a adoção de cães por famílias estrangeiras.
Em julho de 2023, o Governo turco aprovou uma medida destinada a reduzir drasticamente a população de cães vadios no país, alegando motivos de saúde pública e segurança. Esta nova legislação, conhecida como “lei do massacre” surge como resposta a uma série de ataques e acidentes rodoviários envolvendo animais abandonados, assim como o receio da propagação de doenças como a raiva.
No entanto, a “lei do massacre” tem enfrentado forte oposição, tanto a nível nacional como internacional. Milhares de pessoas têm saído às ruas para protestar, temendo que muitos animais acabem em abrigos sobrelotados ou, em última instância, sejam abatidos. As autarquias turcas são agora responsáveis por providenciar espaços adequados para os animais recolhidos, garantindo que sejam esterilizados e vacinados antes de serem disponibilizados para adoção. No entanto, cães com comportamentos agressivos ou doenças incuráveis poderão ser abatidos, tendo em conta a “lei do massacre”.
Com o aumento do risco de abate, várias organizações de bem-estar animal têm procurado soluções para os cães abandonados, incluindo adoções internacionais. Nilgul Sayar, uma ativista e gestora de um canil em Istambul, trabalha incansavelmente para encontrar lares fora da Turquia para estes animais.
“A fundação com a qual mais colaboramos é a Animal Care Projects (ACP), dos Países Baixos”, afirma Nilgul. Através desta parceria, centenas de cães têm encontrado novos lares em países europeus. No site da ACP, os cães são anunciados após passarem por um processo de vacinação e burocracia que pode demorar até quatro meses.
Apesar do elevado custo do processo, que pode rondar os 1.000 euros, muitas famílias estrangeiras têm demonstrado interesse em adotar estes patudos, ajudando-os a escapar ao destino incerto que enfrentam nas ruas da Turquia.
Dali e Deezi: Uma Nova Vida nos Países Baixos
Dois dos cães que já encontraram uma nova casa são Dali e Deezi. Dali, um cão com três patas, recebeu o seu nome inspirado na cadeira de três pernas de Salvador Dalí e agora espera ser adotado nos Países Baixos. Já Deezi, uma cadela de nove anos, viveu durante quatro anos no abrigo de Nilgul e já se encontra feliz na sua nova família.
Caroline Dieleman, a neerlandesa que adotou Deezi, não esconde a felicidade: “Ela é muito aberta, como um livro. Não tem ansiedade com outros cães e é extremamente feliz. Vai para a rua, brinca com outros cães e adora rebolar na água”.
Embora o processo de adoção seja demorado e envolva várias etapas, a dedicação de ativistas como Nilgul e a generosidade de famílias estrangeiras como a de Caroline têm feito a diferença na vida destes animais.
Desafios Futuros
Apesar das adoções bem-sucedidas, a realidade é que ainda há milhões de cães que enfrentam um futuro incerto na Turquia. As críticas à nova “lei do massacre” continuam a crescer, com muitos a questionarem se as autarquias terão os recursos necessários para construir e manter abrigos adequados. Caso contrário, teme-se que a medida resulte numa solução trágica para o problema dos cães abandonados, com o aumento dos abates.
Os defensores dos direitos dos animais argumentam que, se as políticas anteriores de captura, castração e devolução dos cães às ruas tivessem sido corretamente implementadas, a situação atual poderia ser muito diferente.