Uma experiência altamente inovadora permitiu descobrir que os cães têm uma forma única de ver o mundo.
Foi esta a conclusão a que uma equipa de investigadores chegou após colocar dois cães, Daisy e Bhubo, numa máquina de ressonância magnética, enquanto viam filmes caseiros.
A perceção canina e humana são fascinantemente diferentes, sendo que os cães estão muito mais sintonizados visualmente com as ações, do que com quem ou o que está a realizá-las.
No caso, foram feitas filmagens de três vídeos de meia hora cada, com cães a correr e humanos a interagir com eles, oferecendo-lhes guloseimas. Outras atividades incluíram carros a passar, humanos a interagir uns com os outros, um veado a atravessar um caminho, um gato numa casa e cães a andar sobre coleiras.
Depois foi feita a segmentação dos dados dos vídeos por carimbos temporais para identificar classificadores (cães, humanos, veículos, ou outros animais) ou ações (farejar, comer ou brincar). Tal informação, bem como a atividade cerebral dos dois cães, foi introduzida numa rede neural chamada Ivis, criada para mapear a atividade cerebral desses classificadores. Dois humanos também assistiram aos vídeos enquanto se submetiam a uma ressonância magnética.
A rede foi capaz de mapear os dados do cérebro humano para os classificadores com 99% de precisão, tanto para os de objetos como para os de ação. Com os cães, foi mais instável: não funcionou, de todo, para os classificadores de objetos, mas, para as ações, a Ivis mapeou a atividade visual para o cérebro com um intervalo de precisão entre 75 e 88 por cento.
Para Gregory Berns, um dos investigadores do estudo, “nós, humanos, somos muito orientados para os objetos”, realçando que “há 10 vezes mais substantivos do que verbos na língua inglesa, porque temos uma obsessão particular em nomear objetos. Os cães parecem estar menos preocupados com quem ou o que estão a ver e mais preocupados com a própria ação”.
Salientou ainda que os cães têm diferenças significativas na forma como veem o mundo em comparação com os humanos. Apesar de só distinguirem sombras, têm uma maior densidade de recetores de visão sensíveis ao movimento.
Segundo o estudo, isto deve-se à necessidade dos cães serem mais conscientes relativamente às ameaças no seu ambiente, em relação aos humanos. E, enquanto os humanos são muito mais orientados para a visão, os cães têm como sentido mais poderoso o olfato.
“Mostrámos que podemos monitorizar a atividade no cérebro de um cão enquanto este assiste a um vídeo e, pelo menos num grau limitado, reconstruir o que está a ver”, disse Berns, notabilizando o facto.
Foto: Emory University