A discussão sobre o futuro da gestão de animais errantes voltou a ganhar destaque após várias propostas políticas sugerirem o alargamento dos programas de Captura, Esterilização e Devolução (CED) também aos cães. Embora este modelo seja amplamente aplicado em colónias de gatos, a comunidade médico-veterinária alerta que aplicar a mesma estratégia a cães pode representar riscos sérios para a saúde pública e para a segurança das populações.
O programa Captura, Esterilização e Devolução foi criado para controlar de forma ética e eficaz as colónias de gatos de rua. A captura, esterilização e devolução permite reduzir gradualmente o número de animais, diminuir comportamentos indesejados associados ao cio e minimizar conflitos com moradores e autarquias.
Porque é que muitos especialistas rejeitam alargar o CED aos cães?
A principal preocupação prende-se com o facto de cães que vivem na via pública apresentarem riscos muito mais elevados do que os gatos. Um cão errante pode provocar acidentes de viação, atacar outros animais ou mesmo pessoas, ou gerar situações de insegurança em espaços públicos.
Além disso, especialistas referem que aplicar o Captura, Esterilização e Devolução aos cães é uma solução tecnicamente inadequada e desajustada à sua natureza social e comportamental. A devolução de cães esterilizados ao mesmo território pode normalizar o abandono, agravar conflitos e comprometer o trabalho que os Centros de Recolha Oficial têm desenvolvido nos últimos anos.
Debate político aceso: propostas e controvérsias
A discussão intensificou-se com propostas apresentadas para o Orçamento do Estado, defendendo que todos os animais errantes — incluindo cães — fossem integrados no Captura, Esterilização e Devolução. Surgiram também outras iniciativas políticas com a intenção de aplicar o modelo a cães assilvestrados.
Estas ideias dividiram opiniões:
- Profissionais médico-veterinários alertam para riscos graves e consideram a medida precipitada.
- Associações de proteção animal reconhecem que podem existir situações em que o CED é impossível de aplicar a cães devido ao seu potencial agressivo, mas defendem que cada caso deve ser avaliado individualmente.
- Existe ainda o argumento de que os centros de recolha não têm capacidade para acolher todos os cães abandonados, o que dificulta abordagens generalistas.
Alternativas defendidas para proteger animais e comunidades
Especialistas e organizações de proteção animal partilham a visão de que é necessário abordar o problema com estratégia e responsabilidade, promovendo políticas que atuem na origem do problema do abandono. Entre as soluções apresentadas destacam-se:
- Reforço da detenção responsável, sensibilizando tutores para a importância da identificação, esterilização e cuidados contínuos.
- Regulação da reprodução de animais de companhia, evitando ninhadas acidentais e oferta descontrolada.
- Controlo das vendas online, dificultando o comércio informal e reduzindo o número de animais adquiridos sem informação adequada.
- Implementação de respostas ajustadas a diferentes territórios e tipos de populações errantes.
Um tema que exige equilíbrio e responsabilidade
O futuro da gestão de cães errantes em Portugal depende de soluções ponderadas, multidisciplinares e baseadas em evidência científica. Mais do que medidas rápidas, o país precisa de estratégias duradouras que protejam animais, comunidades e municípios, garantindo segurança pública sem comprometer o bem-estar dos patudos.




